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Ele se chama Rafael. Nasceu em 1979 no hospital público Piratininga, no Capão Redondo, São Paulo. Morou quatro anos na Bahia e, ao voltar para o bairro de origem com 15 anos de idade, o lugar mais distante para onde viajou foi Santos, litoral paulista. Trabalha como vigia em um centro educacional no próprio Capão. É casado e tem uma filha.

Libertários

Na década de 1990, Rafael e alguns amigos montaram o grupo de rap Libertários. Os rapazes viam a necessidade de haver mudanças na comunidade carente e as músicas que compunham seguiam a tendência de reivindicação. Mas chegou um momento que se sentiram hipócritas apenas cantando e não realizando outras atividades que contribuíssem para as melhorias da região.

A ideia inicial era construir apenas uma biblioteca comunitária, mas o projeto tomou maiores proporções e surgiu a ONG Libertários do Capão. Conseguiram milhares de livros, ata e estatuto para oficializar a instituição e ganharam reconhecimento. Ocuparam páginas de jornais como, O Estado de S. Paulo e o extinto Notícias Populares com as manchetes “Rappers cuidam de 3 mil livros no Capão Redondo” e “Rappers ajudam crianças pobres”.

Junto com os holofotes veio a pressão e o desgaste. O grupo de rap acabou e a ONG fechou as portas por alguns anos.Os rapazes se dispersaram e Rafael queria retomar o trabalho social. Mas como voltar sozinho? As dúvidas eram aterrorizantes e pesavam como uma grande cruz. Rafael se agarrou na fé e pediu orientação de Deus. As palavras divinas vieram e Rafael percebeu que mesmo que o peso fosse insuportável era possível seguir o caminho das pedras.

Libertários do Capão recomeçou do zero.Passou a entregar leite para a população carente na garagem de casa. Vendeu os milhares de livros da antiga biblioteca para ajudar no aluguel de um espaço. Recebeu emprestado um galpão, mas depois veio uma proposta de aliança política que Rafael negou por não querer se envolver com esse tipo de coisa. A negação custou caro e um dia, ao chegarem ao galpão, Rafael e a esposa Edisoneide encontraram todos os pertences da ONG na rua.Além disso, algumas pessoas não compreendiam a missão. Diziam que era loucura de Rafael trabalhar de graça e que o povo não merecia nada. Outra proposta de parceria surgiu e mais uma vez o casal foi deixado “na mão”. Os obstáculos pareciam infinitos. As pedras ficavam cada vez mais pontiagudas. Rafael aguentaria o peso mesmo com o apoio da esposa? Novamente Rafael precisou se agarrar na mão da fé com força.


Rafael viu o desenvolvimento do bairro, amigos se envolvendo com drogas, a perdição se alastrando como uma peste, a violência, o rap surgindo para falar com a galera, mas tendo o lado bom da mensagem não compreendido. Diante de todas as reflexões e lembranças, Rafael se questionava sobre como acabar com as coisas ruins que assolavam o ambiente no qual vivia. Concluiu que não era pela força, mas por boas ações. “Quem sabe a gente consiga resgatar pelo menos um”.
Rafael continuou!

O que Libertários do Capão faz hoje?

Libertários tem um projeto que se chama melhoria habitacional, que consiste em fazer reformas em casas da comunidade. Cursos de corte e costura, artesanato, cabeleireiro, música e de pedreiro. O curso de pedreiro recebeu uma grande procura por parte das mulheres.

Elas argumentaram que não querem depender dos homens para realizar alguns serviços e que contratar alguém está custando muito caro. Todos os cursos são gratuitos e os projetos são financiados de acordo com as parcerias realizadas. Rafael divide o tempo de cuidado da ONG com o trabalho de vigia. Ele conta muito com o apoio da esposa.